Olá leitores, hoje trago para vocês mais um conto de minha autoria.
Leiam com carinho e reflexão.
Espero que gostem...
A última estação
“Os anos correm pelos trilhos da vida...”
São as palavras que estavam escritas em uma
folha que Heitor encontrou enquanto esperava o trem, trem que trazia sua
liberdade, ele iria para a faculdade começar uma nova vida, independente, longe
daquela pequena cidade interiorana.
Já passava das 23:00 horas e nada de trem,
a lua se escondeu atrás de uma nuvem e envolto em um mar de escuridão Heitor
ficou, silêncio, silêncio e nada mais, uma forte brisa soprou, fazendo o velho
carvalho balançar suas folhas secas.
Secas, igual à vida de muitas pessoas
daquela cidade, pobres almas vazias de conhecimento, não sentiria falta delas,
sentiria falta apenas de Sofia, linda garota, que fazia jus ao nome, diferente
dos outros era culta, mas seu pai muito conservador pensava diferente, tentou
forçá-la a casar-se com apenas 16 anos, ela negou, então ele a prendeu em casa,
mas sua alma escapou, uma pena seu corpo ter ficado, pendurado, no teto do
quarto.
Grande perda na vida de Heitor, que sempre
ia ao cemitério visitá-la, agora não
mais, entretanto Sofia sempre iria continuar viva, em seu coração.
Então a brisa para, e uma solidão toma
conta de Heitor, uma luz corta o céu e cai distante, em alguns instantes o
trovão, chuva era só o que faltava para completar aquela série de desgraças.
Não tardou e o céu entrou em prantos, e a
escuridão da noite era constantemente cortada com raios, o silêncio fora
interrompido por fortes trovões.
Heitor impaciente olhou o relógio,
meia-noite, um remorso começou a tomar conta de seus pensamentos, ele se sentia
culpado por estar deixando Sofia, sem ao menos dizer um último adeus.
-Que chuva, não?
Heitor olha para trás e vê uma estranha
figura, um senhor, muito idoso,
completamente molhado, vestindo um terno preto, e um chapéu que cobria
parcialmente seu rosto. - Realmente uma grande tormenta, parece que o céu vai
desabar. O velho então se aproxima e senta no banco ao lado de Heitor.
- O que você está esperando, jovem?
Heitor refletiu por alguns segundos.
– Estou esperando um trem, ele ira me levar
para faculdade, mas está atrasado.
- Muitas coisas se atrasam na vida, creio eu
que um trem não é a mais importante delas.
- E o senhor, para onde o senhor vai?
Nesse momento um enorme trovão interrompe a
conversa e um raio ilumina a face do velho senhor, revelando olhos verdes
escuros, tão profundos, que parecem guardar segredos que apenas a idade e as
experiências de vida podem gerar.
- Eu vou para a última estação, pois meu
tempo está no fim, mas para onde eu vou não importa, jovem, um dia você irá
para lá também, igual a todas as pessoas, todos temos que enfrentar a morte em
algum momento, e isso é o que menos importa, devemos aproveitar o nosso tempo
de vida, cada segundo, seja ele ruim ou bom, porque não existiriam bons
momentos se não houvesse os maus. A vida é um drama, repleto de tragédias,
humor, romance, dor, nós somos os criadores da nossa própria história, se ela vai
acabar com um final feliz ou não, depende apenas de nós.
Ouvindo isso Heitor congelou, abaixou a
cabeça e refletiu aquelas sabias palavras, lembrou de seus sonhos de criança,
lembrou de seus problemas familiares e de seu amor por Sofia.
- Jovem, percebo que você tem assuntos
inacabados aqui, você não deve partir até que os resolva, porque se fizer isso,
ira se arrepender e o remorso é uma das piores dores que alguém pode sentir, eu
tenho muitos problemas inacabados que perseguem minha alma até hoje, mas meu
tempo é curto e não tenho mais como resolvê-los. Mas você, você ainda é novo e
tem tempo, não deixe que os problemas te persigam, os enfrente agora.
Heitor então se levantou do banco e começou
a correr em meio à chuva, a água fria parecia limpar suas culpas, os raios ao
fundo iluminavam seu caminho e os trovões pareciam seu coração batendo, cada
vez mais alto e forte.
O senhor gritava para Heitor
- Vá jovem, enfrente seus medos! Reescreva
a sua história!
Heitor
chegou ao cemitério e procurou o túmulo de Sofia, o encontrou e caiu de joelhos
em sua frente.
Pediu desculpas por não tê-la ajudado na
briga com o pai, e falou que tudo poderia ter sido diferente, mas infelizmente
não foi, aquele era um dos momentos de tragédia de sua vida, e ele conseguiu
superar porque sabia, que por consequência, dias melhores iriam vir, e dias
tristes também, tudo faz parte dessa história complexa que é a vida, cheia de
metáforas que viram realidade, misturas de gêneros literários e sonhos inacabados.
A chuva parou e Heitor voltou para a
estação, lá chegando não encontrou o velho, mas no banco onde o senhor estava
sentado havia uma folha, semelhante àquela que ele havia encontrado muitas
horas antes.
Nela estava escrito:
“Os anos correm pelos trilhos da vida, paramos em diversas estações,
conhecemos muitas pessoas, algumas entram para nossa vida, para a nossa
história, se tornando personagens muito importantes, algumas como amigos,
amores, inspirações, outras como antagonistas, por fim somos todos escritores e
protagonistas de nosso próprio destino, somos metáforas vivas de nossas ações,
e somos os únicos capazes de colocar um ponto final na nossa história.”
Lendo aquilo, Heitor se sentiu completo,
ele conseguiu reescrever sua história e transformou aquele capítulo que parecia
uma tragédia em um romance.
Se sentindo cansado, Heitor caiu no sono,
acordou algumas horas depois, olhou para o relógio uma última vez, 6:00 da
manhã, ele olhou para a linha do trem e viu o sol nascer no horizonte, um novo
dia surgia, uma nova página começava a ser escrita, um novo capítulo para seu
livro inacabado.
O trem que ele esperava chegou, Heitor
subiu entusiasmado nele, e partiu para sua liberdade.
Quando a poeira provocada pelo trem se dissipou,
em meio aos trilhos, encontrava-se um papel sujo e molhado, aonde estava escrito:
“Nos encontramos na última estação”
Matheus Natal
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